terça-feira, 13 de outubro de 2020

Brasileira evita desperdício produzindo sorvetes na Irlanda

Essa é uma das muitas histórias de sucesso de brasileiros que conseguem transformar a ideia de morar e empreender no exterior em realidade.

Com a crise econômica brasileira, o marido desempregado e a esperança de um futuro melhor, Giselle Makinde Pereira Goncalves resolveu tentar a vida na Irlanda.

A chef de cozinha paulista conseguiu não só realizar o seu sonho, junto de sua família, mas também abrir seu próprio negócio, uma sorveteria artesanal “zero waste”.

Utilizando produtos que seriam desperdiçados — mas que, com técnica e criatividade, transformam-se em saborosos sorvetes — ela hoje vê um saldo superpositivo por ter criado coragem para decolar sua ideia e mudar um pouquinho do mundo.

Irlanda: o destino ideal

chef Giselle Makinde com sorvetes

Chef Giselle Makinde investiu na ideia de produzir sorvetes artesanais a partir do reaproveitamento de alimentos. Foto: Divulgação

Quando a ideia de morar no exterior pareceu interessante para a família de Giselle, eles escolheram o Canadá para desembarcar. No entanto, problemas com o visto fizeram eles desanimar. Foi então que a Irlanda apareceu.

O país surgiu para Giselle em uma notícia onde era informado que chefs de cozinha estrangeiros poderiam aplicar para o visto de trabalho na ilha.

Após um mês, Giselle embarcou como estudante, em junho de 2018, enquanto o marido e o filho foram para a Itália em busca da cidadania italiana para logo mudar também para a ilha. Na segunda semana vivendo na Irlanda, Giselle já estava empregada em um restaurante com o desejado visto de trabalho. “Pronto! Irlanda seria nossa oportunidade de começar novamente”, disse.

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Do café para o sorvete

Não satisfeita, no início de 2019, Giselle pediu demissão para, como ela mesmo diz, “explorar a cultura dos cafés”. E foi lá que sua ideia de criar uma sorveteria começou.

Ela conta que teve seu primeiro contato com uma empresa de frutas e vegetais que seria sua fornecedora no futuro. “Ele me deu uma caixa de banana bem madura e disse que seria jogado no lixo e que poderia ficar com ela de graça. Foi aí que a luz da ideia ascendeu”, relembra.

Técnica alonga vida de alimentos

Frutas cítricas, berries e uvas na Irlanda

Frutas são reaproveitadas com segurança para a fabricação do sorvete da Cream of the Crop. Foto: 4045 | Freepik.

Mas espere aí! Você pode estar pensando: “mas ela trabalha comida estragada?”. Claro que não. Giselle foi atrás e pesquisou muito sobre um assunto que muita gente não liga, o desperdício de alimentos.

Ela descobriu que existe um restaurante em Amsterdã chamado Instock que faz justamente isso, transforma a ideia do desperdício em negócio. E o que ela fez? Foi lá aprender com eles.

“Eles ‘resgatam’ legumes, carne, peixe, pão e utilizam como base em seu restaurante. Tive a oportunidade de passar uma semana lá, aprendendo com o modelo de negócio deles”, afirmou.

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Giselle voltou para a Irlanda pensando naquela caixa de bananas que ganhou no café onde trabalhava, já que frutas em geral são produtos delicados e estragam rápido. “Comecei a procurar meios de aumentar a vida útil destes ingredientes”, disse.

Por outro lado, ela também lembrou que a Irlanda é um país que consome mais sorvete do que a Itália e esse seria o produto ideal.

Evitando desperdício, encontrando público alvo e com um fornecedor nas mãos, Giselle deu seu “start” para a sorveteria “Cream of the Crop” (“o melhor dos melhores”, em tradução livre).

Investidora brasileira na Irlanda, é possível?

Com a ideia na cabeça e a solução nas mãos, Giselle foi atrás de investimento. E foi um desafio, claro, mas não impossível.

“Encontrei melhores oportunidades de crédito, facilidade e agilidade (mesmo passando por uma pandemia) e o fato de poder começar um negócio de alimentos em casa, legalmente, com visita de inspeção do departamento de vigilância sanitária fez toda a diferença para que minha ‘startup’ pudesse sair do papel”.

Mas abrir negócio durante uma pandemia dá certo?

Cream of the Crop é o nome da marca de sorvetes de Giselle Makinde

Giselle Makinde criou o Cream of the Crop, sorveteria com reaproveitamento de produtos “zero waste”. Foto: Divulgação

Giselle é sincera ao dizer que a pandemia aumentou as dificuldades, mas como a ideia já estava tomando forma antes ela seguiu adiante.

“Das frutas e legumes produzidos todos os anos, 45% são jogados fora. Na Irlanda, o volume de desperdício é tamanho que pode encher o Croke Park em um ano. É um problema que lidamos todos os dias e a resposta dos clientes tem sido fantástica. Um jeito doce de lidar com um dilema cotidiano.”

No fim, a pandemia acabou “auxiliando” os negócios, já que muitos alimentos em excesso, mas em perfeito estado, que iriam parar em um aterro, acabaram virando sorvete. Giselle chegou a receber 80 kg de morango de um único fornecedor.

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Feedback positivo entre brasileiros e irlandeses

Cream of the Crop sorvete feito com melão

Entre os sabores da Cream of the Crop estão frutas típicas brasileiras. Foto: Divulgação

No cardápio da Cream of the Crop estão misturas como abacate com limão e açúcar, sorvete de milho e abóbora com coco, que são a cara do Brasil. “Sabores que fizeram parte da minha infância e de muitos outros brasileiros. Mas o melhor de tudo isso é que meus clientes irlandeses estão adorando. O feedback para estes sabores tão diferentes para o paladar daqui não poderia ser melhor!”

“Quando resolvi tirar a ideia do papel, não imaginava o impacto que isso teria nas pessoas. Faço as entregas pessoalmente e a resposta de brasileiros e irlandeses quando recebem o produto não poderia ser melhor. Um tipo de calor, de receptividade, que me deixa nas nuvens e me dá mais energia para continuar. Sou muito grata a todos que decidiram acreditar no meu trabalho e abraçar a ideia”.

Os pedidos de sorvetes podem ser feitos apenas online e entregues no condado de Dublin. Giselle vai pessoalmente entregá-los. Mas os negócios já devem aumentar no próximo mês, quando a entrega vai abranger toda a Irlanda.

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