sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

A caça ao gringo perfeito no intercâmbio?

Quando eu estava para embarcar para a Ilha Esmeralda, várias pessoas do meu círculo de amizades e, até mesmo, familiares, disseram: “Olha, se for pra namorar, que seja com gringo. Se for para pegar brasileiro, que volte para o Brasil”.

Em busca de um gringo para namorar durante o intercâmbio. © Maksim Shmeljov | Dreamstime.com

Em busca de um gringo para namorar durante o intercâmbio. © Maksim Shmeljov | Dreamstime

E os conselhos não mudaram muito quando cheguei à Irlanda. Logo nos primeiros dias, conheci algumas brasileiras que já moravam aqui há anos, e elas me disseram: “Não se envolva com brasileiros, por favor. Você só vai perder o seu tempo e não vai praticar o inglês”.

Então, seguindo todos esses conselhos, eu decidi encarar essa missão. Conheci italianos, espanhóis, franceses, irlandeses, poloneses, gregos, romenos, americanos, alemães e até na porta do nosso vizinho, a Argentina, eu bati — tudo em prol do namoro com gringo.

Você deve ter lido este parágrafo e pensando: “Credo! Que menina rodada”, mas não precisa pensar isso. Os encontros aqui são bem diferentes dos encontros no Brasil – muitos desses eu não peguei nem na mão. Pasmem! Aqui os passeios são para conversar, comer e realmente conhecer a pessoa (claro que isso não é uma regra).

Na maioria desses encontros eu me sentia super bem, apesar de um pouco constrangida devido ao nível do inglês, que eu ainda arranhava e, às vezes, simplesmente sumia. Foram um, dois… dez… sei lá mais quantos encontros fracassados. Só que vários deles se transformaram em amizade, o que, sinceramente, me deixou muito mais feliz do que o próprio namoro.

Diferenças culturais pode ser um grande impecilho no relacionamento com estrangeiros. © Emilia Ungur | Dreamstime.com

Diferenças culturais pode ser um grande empecilho no relacionamento com estrangeiros. © Emilia Ungur | Dreamstime

Nessas inúmeras tentativas, posso descrever que estar em um relacionamento com um gringo é uma sensação muito diferente e desafiadora. Primeiro, porque você é obrigada a praticar o inglês e, assim, cumprir uma parte dos objetivos que te trouxeram para o intercâmbio; e segundo, porque se tem a oportunidade de conhecer culturas e costumes aos quais talvez você dificilmente ou nunca teria acesso. Você vive uma realidade totalmente diferente da sua e também ensina a eles um pouco do “jeito brasileiro” de ser.

Conversei com algumas amigas que estão em um relacionamento sério com europeus há mais tempo e percebi alguns fatores que mostram a realidade de uma relação assim.

Namorar com alguém de um país diferente do seu é viver experiências novas, estar disposta a se isentar um pouco da sua cultura e viver mais a do outro (afinal, você está em um país diferente do seu). Ainda tem aquele pensamento de que o namoro pode realmente engrenar, talvez você se case e, possivelmente, não volte mais para a pátria amada.

Depois de conversar com elas, fiz uma análise do que eu sentia ao tentar me relacionar com alguém que tinha costumes tão diferentes dos meus e cheguei às seguintes conclusões:

  • Muitos homens daqui estão super preocupados com o seu bem-estar. Eles não se preocupam um só minuto se vão beijar e estão focados em aproveitar o momento.
  • Eles estão interessados em saber mais coisas sobre você, sobre sua família, seus costumes e sua vida no Brasil.
  • Eles querem saber o que você planeja para o futuro.
  • Muitos respeitam e tratam você como uma pessoa de extrema importância.
  • Muitas vezes, são inteligentes e falam mais de 2 idiomas.
A pressão para namorar estrangeiros pode vir da própria família. © Eldar Nurkovic | Dreamstime.com 1 3 0

A pressão para namorar estrangeiros pode vir da própria família. © Eldar Nurkovic | Dreamstime

Realmente, é uma experiência única, mas para não falar que estou exclusivamente em busca de um gringo, também me envolvi com brasileiros (contrariando todas as recomendações recebidas) e, olha, tudo valeu muito a pena. A gente falava só português mesmo. É isso aí… zero inglês! Mas ele conseguia acalmar a minha saudade de casa.

Debatíamos assuntos sobre subemprego, sobre futuro, planos de viagens… Enfim, conseguíamos compartilhar uma vida de igual para igual. O romance durou pouco, mas o que isso importa?

O tempo passou, e eu não consegui namorar nem com gringo nem brasileiro, seguindo solteira.

Mas depois percebi que simplesmente não era isso que eu queria. Eu não queria me envolver com alguém de verdade. E posso falar que não me arrependo das tentativas que fiz. Só digo uma coisa: nem eu nem você, ou qualquer outra pessoa, deve se limitar em namorar só com brasileiro ou só com gringo, simplesmente porque isso não tem regra. Nosso coração não escolhe a nacionalidade.

Já vi casais se formando entre brasileiros, e sua explicação foi: “Ele me entende, ele sabe o que estou passando aqui e ele me faz feliz”. Já vi casais gringos se formando, e adivinha qual era o discurso? “Ele me entende, ele sabe o que estou passando aqui, ele me faz feliz”. Ou seja, o coração é quem manda!

A lição que tiro disso tudo é que não se pode escolher de onde virá o amor. Não é possível controlar essa situação. Uma coisa é fato: Dublin é uma cidade multicultural, com pessoas de todos os lugares do mundo. Então, não será uma grande surpresa você se envolver com um estrangeiro.

Você precisa viver com o coração aberto, sem fazer buscas e procuras específicas para o amor. Vai acontecer no momento certo. Se será brasileiro ou gringo, não sei. Só sei que o amor é lindo, e um dia ele aparece.

Sobre o autor:
Alessandra Batom na MalaAlessandra Assis é mineira, publicitária e blogueira, enlouquecida por viagens e apaixonada por conhecer novas culturas. Descobriu no intercâmbio a mais diversificada forma de se conhecer. Trabalhou por muitos anos com marketing de relacionamento e hoje tem como profissão colocar seu Batom na Mala e contar em seu blog como é a vida fora do Brasil, como são suas viagens e um pouco da moda na Europa.

Imagens via Dreamstime
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